Dicas & truques
A arte como espelho do tempo
Por Alexandre Iunes Elias
Por: Odete Rosa
e-mail: odeterosa9@gmail.com
Muitas vezes buscamos na arte, na literatura ou no cinema um refúgio diante dos desafios da vida. No entanto, como lembra a poetisa polonesa e vencedora do Prêmio Nobel Wislawa Szymborska, em seu poema “Somos filhos da época”, não há real separação entre o pessoal e o político.
Nossas dores, buscas e criações são sempre atravessadas pelo tempo em que vivemos. Toda existência — e toda forma de arte — é filha da sua época, refletindo as tensões, esperanças e contradições do mundo que a produz.
Somos filhos da época
Wislawa Szymborska
Somos filhos da época
e a época é política.
Todas as tuas, nossas, vossas coisas
diurnas e noturnas,
são coisas políticas.
Querendo ou não querendo,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um aspecto político.
O que você diz tem ressonância,
o que silencia tem um eco
de um jeito ou de outro político.
Até caminhando e cantando a canção
você dá passos políticos
sobre um solo político.
Versos apolíticos também são políticos,
e no alto a lua ilumina
com um brilho já pouco lunar.
Ser ou não ser, eis a questão.
Qual questão, me dirão.
Uma questão política.
Não precisa nem mesmo ser gente
para ter significado político.
Basta ser petróleo bruto,
ração concentrada ou matéria reciclável.
Ou mesa de conferência cuja forma
se discuta por meses a fio:
deve-se arbitrar sobre a vida e a morte
numa mesa redonda ou quadrada.
Enquanto isso matavam-se os homens,
morriam os animais,
ardiam as casas,
ficavam ermos os campos,
como em épocas passadas
e menos políticas.
Frase do dia: “O artista se forma no meio da beleza, mas também diante das opressões e injustiças.” Albert Camus